A Geração Z está enfrentando uma crise financeira precoce. O cartão de crédito, que deveria ser uma ferramenta de organização e facilidade, tem sido o grande vilão da inadimplência entre os jovens. No Brasil, jovens de até 25 anos gastam, em média, R$ 1.250 no cartão de crédito, um valor que se aproxima do salário mínimo, segundo dados do Banco Central e do Serasa Experian. O grande problema é que, apesar do alto volume de compras, muitos deles não conseguem pagar a fatura. O resultado? Endividamento crescente e comprometimento de até 60% da renda com gastos no crédito.
Essa situação não surge do nada. A facilidade de criar contas digitais e de acessar o cartão de crédito pelo celular faz com que 67% dos adolescentes já possuam um cartão próprio, conforme levantamento do SPC Brasil. Mas sem uma base sólida de educação financeira, o resultado é uma relação descontrolada com o dinheiro desde cedo.
Educação Financeira infantil: A chave para um futuro sustentável
Para reverter esse cenário, a educação financeira precisa fazer parte da infância das crianças. E quanto mais cedo isso acontecer, melhor. Como explica Thiago Godoy, educador financeiro, cofundador da BEM Educação e CEO da Papai Financeiro: “Se você não lida bem com o dinheiro como adulto – se você compra de forma compulsiva, se você se endivida, se você briga com seu marido ou sua esposa por causa de dinheiro – essa criança vai achar que isso é normal e que isso faz parte”.
Ou seja, o exemplo dos pais e responsáveis é essencial. Mas além do exemplo, é necessário ensinar, de forma leve e lúdica, conceitos básicos de economia e planejamento financeiro. Mostrar à criança que comparar preços é uma prática saudável, que gastar mais do que se ganha pode gerar problemas e que planejar os gastos é um passo importante para realizar sonhos.
Educação Financeira no dia a dia
A melhor maneira de ensinar é pela prática. Pequenas atitudes cotidianas podem fazer a diferença na forma como uma criança entende o dinheiro. Levá-la ao supermercado, envolvê-la na escolha de produtos e explicar a importância de economizar energia e água são lições valiosas.
E tudo isso deve ser feito de maneira natural. Como explica Godoy, “O erro financeiro acontece quando a criança não entende a importância de lidar bem com os recursos, não apenas financeiros, mas todos os outros”. Quando ela percebe que desperdiçar comida é ruim, que economizar energia é importante e que abrir mão de algo agora pode trazer um benefício futuro, ela aprende a tomar decisões mais inteligentes.
A relação das novas gerações com o dinheiro está mudando, e cabe a todos nós garantir que essa mudança seja para melhor. A educação financeira infantil é a chave para um futuro mais consciente e sustentável.
A união escola/família é essencial nessa construção. Muitos pais nunca tiveram acesso a este tipo de instrução e hoje, com as escolas trabalhando conteúdos de educação financeira, o caminho inverso também está sendo percorrido, ou seja, muitos filhos acabam levando conhecimentos em organização e planejamento financeiro para dentro de casa. E isso pode mudar a forma como muitas famílias lidam com o dinheiro.
A introdução de conceitos, conforme a idade
Aqui está uma lista de ações que as famílias podem adotar para educar financeiramente as crianças e adolescentes de forma gradual e eficaz:
Na Infância (3 a 7 anos)
- Ensinar o conceito de dinheiro – Explicar que dinheiro é uma ferramenta para comprar coisas, mas precisa ser conquistado com trabalho.
- Brincadeiras educativas – Usar jogos de faz de conta, como mercadinho e banco, para ensinar sobre compras e trocas.
- Dar pequenas quantias – Oferecer mesadas simbólicas para que a criança entenda o valor do dinheiro.
- Ensinar sobre escolhas – Mostrar que não é possível ter tudo e que, às vezes, é necessário escolher entre um brinquedo e outro.
- Criar um cofrinho – Incentivar a guardar dinheiro para alcançar objetivos pequenos, como comprar um doce ou um brinquedo simples.
Na Pré-Adolescência (8 a 12 anos)
- Introduzir o conceito de orçamento – Ensinar como dividir a mesada entre gastos, economia e lazer.
- Levar ao supermercado – Envolver a criança na escolha de produtos, ensinando a comparar preços e entender promoções.
- Fazer pequenos desafios financeiros – Estabelecer metas, como economizar um valor específico para comprar algo desejado.
- Explicar sobre desperdício – Mostrar que jogar comida fora, deixar luzes acesas e desperdiçar água também afetam o orçamento familiar.
- Apresentar o conceito de trabalho e renda – Incentivar pequenos trabalhos remunerados e noções de empreendedorismo.
Na Adolescência (13 a 18 anos)
- Criar um orçamento conjunto – Envolver o adolescente no planejamento de viagens, passeios e outras despesas familiares.
- Falar sobre crédito e juros – Explicar como funciona o cartão de crédito e os perigos dos juros.
- Incentivar ganhos próprios – Estimular a buscar maneiras de ganhar dinheiro, como vendas e aulas particulares.
- Apresentar conceitos de investimento – Mostrar como funcionam os investimentos básicos, como poupança, renda fixa e até ações.
- Discutir consumo consciente – Ensinar a diferenciar desejos de necessidades e evitar compras impulsivas.
- Conversar sobre segurança financeira – Explicar sobre golpes financeiros, fraudes e a importância de proteger dados bancários.
- Fazer simulações de planejamento financeiro – Criar desafios como “planeje um mês com um orçamento limitado” para exercitar o raciocínio financeiro.
- Incentivar a doação – Mostrar a importância da solidariedade e do impacto positivo de ajudar outras pessoas financeiramente.
Com essas ações, as crianças e adolescentes desenvolvem hábitos financeiros saudáveis desde cedo, construindo um futuro financeiramente organizado e uma sociedade mais consciente.
