Recebi como um presente o honroso convite da Amiga Ed Blair, participar como articulista de A Grande Maloca, um espaço do jornalismo ambiental, cultural, cidadão, jogando luz aos projetos, ações e pessoas que fazem nossa região acontecer positivamente.
Dia 16 de março comemora-se o Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas que tem por objetivo alertar a população acerca de como as alterações climáticas afetam todo o Planeta, inclusive a nossa preservada Amazônia, seja nas atividades de produção de alimentos, na vida humana das cidades, no cotidiano das poluções tradicionais indígenas ribeirinhas…
Como geólogo, no tempo geológico da Terra, presenciamos inúmeras mudanças no clima. Mas o fato ímpar é que nunca estivemos com tantos indivíduos da espécie homo sapiens vivendo ou sobrevivendo juntos num período planetário de mudanças climáticas.
Somos mais de 8 bilhões de habitantes, caminhando cada vez mais rápido para 9 bilhões…
Registra-se que o Holoceno – período em que vivemos – resulta na experiência humana de sobreviver a glaciações terríveis por qual passou o Planeta nos últimos 2 milhões de anos, onde, certamente, por diversas vezes “civilizações” inteiras sucumbiram, nossos primeiros humanos quase macacos humanos.
Embora com tantos alertas científicos, não temos sido capazes de minimizar a intensidade das emissões de gases do efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis, incêndios florestais, desmatamentos ilegais, entre tantas atividades humanas que vêm contribuindo com o crescimento da crise climática.
No verão passado de 2023, sentimos o ar impuro da fumaça nas avenidas de Manaus, fruto de queimadas criminosas, acrescidas de uma vazante histórica que afetou em muito nossa capacidade logística. Se na pandemia nos faltou oxigênio, no ano passado nos faltaram ar puro e água.
E como nos sentimos fragilizados diante destes extremos… a maior cheia seguida pela pior vazante dos rios, eventos críticos que se tornarão muito comuns na Amazônia, enquanto perdurar o período geológico de mudanças climáticas no Planeta.
Quem quiser fazer uma leitura sobre o tema aconselho os artigos do Prof. Dr. Molion, profundo conhecedor da relação Clima e Ambiente.
Da forma que o texto caminha, você pode perguntar: vivemos o Apocalipse? Nada podemos fazer diante da força da natureza, divina por criação?
Realmente, por mais tecnologia que dispomos, o conhecimento humano não é capaz de conter um fenômeno climático natural como o que estamos atravessando.
Podemos fazer chover, prever temporais, furacões, períodos de seca, avaliar o crescimento de um fenômeno La Niña ou o arrefecimento do El Niño, medir as temperaturas dos oceanos, acompanhar as suas correntes e direções… mas, fazer parar uma mudança climática, não somos tão poderosos. Não temos um herói super-homem ou uma supernação capaz de nos liderar na guerra contra o clima.
Mas, quero ressaltar que a palavra SOLIDARIEDADE me parece oportuna nos tempos atuais, afinal, caberá ao ser humano apreender a SER HUMANO diante das tragédias que estão e estarão acontecendo.
Estamos todos, ricos e pobres, brancos, pretos, amarelos, judeus e palestinos, russos e ucranianos, cristãos e ateus na mesma nau, ou seria uma maloca – A GRANDE MALOCA – chamada Terra.
Ao fazer a leitura do artigo do diretor-presidente da LBV José de Paiva Netto intitulado “Não temos outra morada física senão a Terra” a partir do blog: www.paivanetto.com, reforço sua recomendação: “(…) andamos alegremente esquecidos de que somos criaturas dependentes da Mãe Natureza; portanto, devemos cuidar muito bem dela”.
De que solidariedade estamos falando?
Notadamente, daquela que cuida da Natureza que sempre nos protegeu.
Se olharmos as civilizações amazônicas pré-colombianas, visitei o Peru recentemente, percebemos na engenharia arquitetônica inca o cuidado com a água, o conhecimento profundo e o respeito que possuíam do Ciclo da Água.
Falo do respeito que sustentavam em seus “sistemas urbanos” conscientes da água como agente geológico, destrutivo e construtivo de paisagens andinas e amazônicas, formando e reformando as várzeas e igapós do nosso Quaternário.
O que aprendemos com tais civilizações?
Infelizmente, desde o século XV, temos dizimado suas populações, como estamos fazendo com nossos irmãos Ianomâmis, pela ganancia desmedida do ouro ilegal, sem escrúpulos, matando de sede e fome pela contaminação do mercúrio, desmatando florestas… até quando… e olha que já estamos no século XXI!
O bom em estudar o Apocalipse, o Livro das Profecias Finais, é que ele nos revela a urgência de um Novo Tempo e uma Nova Era – de prosperidade e humanidade.
Este renascimento é possível e depende exclusivamente de nós, seres humanos, do olhar fraterno, afinal, aquele que está ao meu lado é meu irmão na jornada deste Planeta Terra em transição.
Na Amazônia, nosso território hídrico, devemos e podemos paralisar imediatamente o desmatamento ilegal, começando um novo tempo de restauração florestal que torne a imensa cobertura da floresta, o dossel protetor da agua da chuva, minimizando seu caráter erosivo e destrutivo, como aquele que sai com o guarda-chuva e busca não se molhar.
Se nossas cidades não foram construídas respeitando a natureza e o conceito do Ciclo da Água, é hora de torná-las resilientes, recuperando as matas ciliares dos igarapés, retirando as populações das áreas de inundações e de risco geológico, permitindo o acesso nos celulares dos cidadãos de previsões de chuvas intensas em tempo real, para a prevenção e minimização dos prejuízos naturais causados pelos eventos extremos que vivemos e viveremos.
Enquanto esperamos o novo reequilíbrio climático que vai acontecer na Terra, nossa sobrevivência dependerá da forma de bem-viver, intensamente, a solidariedade que existe em você, em mim, em cada um de nós.
Afinal, podem tentar gastar trilhões de dólares na indústria da guerra, mas, a guerra que devemos travar contra o clima, esta, depende muito mais de atitudes do que recursos.
E podemos ganhar esta guerra com solidariedade, afinal, A GRANDE MALOCA chegou para mostrar e abrir caminhos, a partir da Amazônia, em busca da construção de um Brasil melhor e de uma Humanidade mais feliz.
Daniel Borges Nava
Pesquisador Doutor do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM, é Legionário da Boa Vontade da LBV.