O planeta está perto de ultrapassar o ponto sem retorno, e a COP 30, que ocorre em Belém, pode ser a última grande oportunidade de evitar isso. Mais do que um evento diplomático, a conferência coloca o Brasil no centro da discussão sobre o futuro climático do planeta, pondo em teste a capacidade global de agir diante da emergência climática que tanto nos preocupa.
As mudanças climáticas têm impactos severos no mundo e no Brasil. Em Rio Bonito do Iguaçu (PR), um tornado com ventos de 250 km/h, classificado como F3/F4 na Escala Fujita, causou mortes, feridos e destruição. Na COP30, o debate central aborda fatores que aumentam a ocorrência dessas tragédias e destaca a necessidade de comprometimento e financiamento climático para adaptação, especialmente em países emergentes.
O primeiro ponto crucial é a justiça climática. Países em desenvolvimento, que menos contribuíram para o aquecimento global, são os que mais sofrem seus impactos. É hora de os países ricos cumprirem suas promessas de financiamento e apoio técnico, garantindo que a transição seja justa e inclusiva.
Por ter a Amazônia como anfitriã, o Brasil carrega a responsabilidade de apresentar resultados concretos no combate ao desmatamento e na valorização das comunidades tradicionais. E será que há sinais positivos? Segundo dados do INPE, houve uma queda de 11% no desmatamento da Amazônia entre agosto de 2024 e julho de 2025, com uma área de 5.796km² devastada. Essa é a menor taxa desde 2014, representando o terceiro menor índice da série histórica iniciada em 1988. Mesmo com tendência de queda, junho registrou um aumento pontual de 91% no desmatamento, impulsionado por incêndios florestais.
Além de vários desafios e compromissos assumidos na COP 29, em Baku, temos o Pacto Global para a Transição Energética Justa e Inclusiva, que reforça a necessidade de substituir o uso de combustíveis fósseis por fontes renováveis. O grande desafio é não gerar desemprego e exclusão, mas sim garantir empregos e inclusão social, capacitando profissionais para enfrentar essa mudança de forma sustentável. Isso inclui garantir a participação social no planejamento de políticas públicas, especialmente de povos indígenas e comunidades vulneráveis.
Conforme acordo da ONU, o aquecimento global foi limitado a 1,5º C. Para atingir esta meta, as emissões globais precisam ser reduzidas em 43% até 2030, comparado aos níveis de 2019. Porém, compromissos atuais alteraram o limite do aumento da temperatura mundial para 2,5ºC até o final do século, indicando que a cada ano perdido, os custos e impactos como secas severas e eventos extremos refletem em prejuízos econômicos de cifras bilionárias. Desse modo, a COP 30 se torna mais que uma conferência, é a oportunidade de mostrar que desenvolvimento e preservação ambiental precisam andar juntos.
Não podemos esquecer a responsabilidade corporativa. Empresas que ainda lucram com práticas insustentáveis devem ser responsabilizadas e governos precisam garantir transparência nas metas climáticas.
Em nosso país, podemos mostrar que é possível alinhar crescimento econômico e preservação ambiental, a exemplo da empresa Natura que há uma década tornou todos os seus produtos carbono neutro e pretende ser 100% regenerativa até 2050, contribuindo assim na conservação de milhões de hectares da Amazônia. Ações como estas demonstram que sustentabilidade também pode ser parte do modelo de negócio e serve de inspiração para outras empresas.
É preciso refletir se a COP 30 será apenas um palco para discussões, ou palco para transformar as promessas em ações concretas e sustentáveis. Essa é a chance do Brasil ser protagonista, não só em discursos, mas em práticas que mudem nosso cotidiano.
*Sandra Lopes é mestre em Gestão Ambiental e Coordenadora de cursos de Pós-Graduação da UNINTER.

