No dia 1 de março (sexta-feira), às 10h, é realizada a cerimônia de posse das novas titulares da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência, realizada em parceria do Itaú Cultural e o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP). Desta vez, a titularidade é composta por três mulheres oriundas de povos originários: a artista visual baiana Arissana Pataxó, do povo Pataxó, na região Nordeste; a antropóloga amazonense Francy Baniwa, do povo Baniwa, na região Norte; e a curadora sul-mato-grossense Sandra Benites do povo Guarani Nhandeva, região Centro-Oeste.
O evento acontecerá presencialmente na USP, em São Paulo, e contará com transmissão ao vivo pelo site do IEA http://www.iea.usp.br/aovivo. As novas catedráticas serão recebidas pela escritora Conceição Evaristo, que atuou como titular de 2022 a 2023.
Nesta nova titularidade, Arissana, Francy e Sandra conduzem o programa Caminho da Cutia: territórios e saberes das mulheres indígenas. O foco saõ os saberes e fazeres das mulheres indígenas, abordados a partir de experiências em diversas áreas: do trabalho das parteiras à produção de cerâmica, do cultivo de roças à educação escolar e de suas atuações na política, academia e artes, entre outros segmentos.
Participam também da posse Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, e Maria Alice Setubal, representante da família de Olavo Setubal. Pela USP, estarão presentes Martin Grossmann, coordenador acadêmico da cátedra, Roseli de Deus Lopes, vice-diretora do IEA, Ana Maria Rabelo Gomes, pós-doutora em Antropologia, e Maria Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora da USP.
Sobre a cátedra
A Cátedra Olavo Setubal é uma iniciativa realizada em parceria pelo IEA/USP e o Itaú Cultural. Foi criada em 2015 com a proposta de fomentar reflexões interdisciplinares sobre temas acadêmicos, artístico-culturais e sociais nos âmbitos regional e global.
A cada ano é eleito um titular para orientar as atividades da cátedra. Em 2016, o cargo foi ocupado pelo diplomata Sérgio Paulo Rouanet, sucedido no ano seguinte por Ricardo Ohtake, diretor do Instituto Tomie Ohtake. Em 2018, quem assumiu a posição foi a educadora e ativista social Eliana Sousa Silva, diretora-fundadora da Redes da Maré, e, no ano seguinte, a titularidade dupla foi conduzida pelo curador e crítico de arte Paulo Herkenhoff e a bioquímica e professora Helena Nader.
Em 2021, o catedrático foi o antropólogo argentino Néstor García Canclini, substituído em 2022/2023 pela escritora Conceição Evaristo. Agora, prepara-se para dar início à titularidade tripla, feminina e indígena, tendo à frente a artista visual Arissana Pataxó, a antropóloga Francy Baniwa e a curadora Sandra Benites.
O Itaú Cultural – ao lado de Itaú Social e Itaú Educação e Trabalho – integra a Fundação Itaú, organização criada em 2019 com o objetivo de ampliar o impacto das iniciativas nos campos da cultura e da educação na sociedade.
Sobre as titulares
Arissana Pataxó é artista plástica da etnia Pataxó, nascida em Porto Seguro, na Bahia. Viveu às margens do rio, como diz, e tem essa memória como suas primeiras referências de arte. Aos 16 anos, mudou-se para a aldeia urbana de Coroa Vermelha. Ingressou no curso de Artes Plásticas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia – UFBA, em 2005, e desenvolveu ao longo de seus estudos atividades de extensão de arte- educação com o povo Pataxó. Além dos Pataxó, continua trabalhando com outros povos indígenas da Bahia com atividades de arte-educação e produção de material didático.
Em 2007 realizou sua primeira exposição individual, Sob o olhar Pataxó, no Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA, em Salvador. Desde então, ingressou no mundo artístico com participação em diversas exposições. A artista desenvolve uma produção artística em diferentes técnicas, abordando a temática indígena como parte do mundo contemporâneo. Foi curadora do CURA, festival de arte urbana de Belo Horizonte. Atualmente, desenvolve seu doutorado na Universidade Federal da Bahia e é curadora da representação brasileira na Bienal de Veneza, que começa em abril de 2024.
Francy Baniwa nasceu na comunidade de Assunção, no baixo rio Içana, Terra Indígena Alto Rio Negro, no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. É antropóloga, fotógrafa, cineasta e pesquisadora do povo Baniwa, engajada há uma década nas organizações e no movimento indígena do Rio Negro. Trabalha e pesquisa nas áreas de etnologia indígena, gênero, organizações indígenas, memória, narrativa, fotografia e audiovisual. Fez Licenciatura em Sociologia em 2016, pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. É mestra (2019) e doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Foi a primeira mulher Baniwa a se tornar mestre, buscando relacionar seus saberes ancestrais com as teorias acadêmicas e unificar a vivência entre a cidade e a comunidade. Em 2023, lançou Umbigo do Mundo, livro que transcreve as narrativas do clã Waliperedakeenai, comunidade Baniwa onde cresceu, contadas pelo pai, sua principal referência bibliográfica e que assina como co-autor da obra. A publicação a tornou a primeira mulher indígena brasileira a publicar livro de antropologia.
Sandra Benites é antropóloga e curadora Guarani Nhandeva, cujas propostas curatoriais têm enfatizado as cosmovisões indígenas e centrado nas mulheres indígenas como protagonistas. Foi curadora do Museu das Culturas Indígenas em São Paulo e recentemente foi nomeada diretora de Artes Visuais da Fundação Nacional de Artes (Funarte). É graduada no curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica da Universidade Federal de Santa Catarina, mestra em Antropologia Social pelo programa de pós-graduação do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e desde 2019 vem desenvolvendo pesquisa de doutorado na UFRJ.
Foi a primeira curadora indígena do MASP, onde participou da exposição Histórias Brasileiras. Suas mais recentes curadorias aconteceram em 2023, na exposição Nhe’ e Se, em Brasília, ao lado da artista Sallisa Rosa, e na primeira edição da Bienal das Amazônias, em Belém do Pará, com curadoria assinada em conjunto com Keyna Eleison, ex-diretora artística do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Flavya Mutran, doutora em Artes Visuais, e Vânia Leal, curadora e arte historiadora.