Nesta quinta-feira, 17 de dezembro, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) celebrou os 60 anos de instituição da Universidade do Amazonas (UA), entidade que deu origem à atual universidade federal. A comemoração ocorreu durante Sessão Especial do Conselho Universitário (Consuni), no auditório Rio Amazonas da Faculdade de Estudos Sociais (FES), em Manaus.
A sessão reuniu membros do Consuni e dos Conselhos de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) e de Administração (Consad), além de gestores das unidades precursoras, e permitiu uma retrospectiva dos marcos históricos que deram origem aos primeiros cursos e consolidaram a universidade pública no Amazonas. Em 2002, a UA passou a se chamar Universidade Federal do Amazonas. Durante a solenidade, a reitora Tanara Lauschner entregou diplomas aos representantes das cinco unidades fundadoras.
Em seu discurso, a reitora destacou o processo de institucionalização da universidade a partir de duas normas centrais de 1965: a Resolução nº 02/1965, que autorizou o funcionamento da Seção de Letras, e a Resolução nº 06/1965, responsável por regulamentar os cursos de Engenharia, Medicina, Odontologia e Farmácia. Para além dos atos normativos, Tanara enfatizou o papel histórico, político e social da universidade.
“A história de uma universidade pública é mais do que revisitar datas e atos normativos. É reconhecer que instituições como a Ufam são construídas a partir de um diálogo profundo com os processos políticos, sociais e culturais”, afirmou. Segundo ela, a universidade nasceu em um contexto singular da história brasileira, marcado por debates sobre modernização do Estado, redução das desigualdades e reforma educacional. Ao final, a reitora lembrou, emocionada, a origem do campus: “Há uma antiga planta do terreno onde foi construída a universidade. Nela aparece um pequeno sítio desapropriado. O nome desse sítio era Liberdade”.
Ao tratar do pioneirismo no Amazonas, o diretor da Faculdade de Tecnologia (FT), professor João Caldas do Lago Neto, destacou a trajetória da unidade e o esforço dos precursores. “Hoje a FT tem 12 cursos de graduação e oito pós-graduações. Nós temos muito a comemorar”, afirmou. Ele lembrou que a criação da Faculdade de Engenharia, inicialmente com o curso de Engenharia Civil, foi marcada por grandes desafios. “Havia desafios monumentais, mas havia algo maior: coragem. A coragem de professores, servidores e estudantes que acreditaram que a Engenharia poderia ser a ponte entre o Amazonas e o futuro”, disse.
O diretor da Faculdade de Medicina (FM), professor Edson de Oliveira Andrade, ressaltou a importância dos pioneiros e das estruturas iniciais do curso. “Hoje temos quase seis mil médicos formados. Mas prefiro lembrar aqueles que foram quase anônimos”, afirmou, ao relatar que, no início, a universidade não dispunha sequer de livros da área da saúde. “A biblioteca apresentada ao MEC era a particular de professores”, lembrou.
Representando a Faculdade de Odontologia (FAO), a diretora Carina Toda destacou tanto a trajetória histórica quanto a consolidação da unidade no ensino, na pesquisa e na extensão. Em um discurso sensível, lembrou a união da faculdade durante a pandemia de covid-19 e ressaltou o caráter pioneiro da formação odontológica no Amazonas. “O estudo prático era realizado nos consultórios dos próprios professores e na Santa Casa de Misericórdia de Manaus”, recordou.
O diretor da Faculdade de Farmácia (FCF), professor Antônio Batista da Silva, ressaltou a contribuição histórica da área para a saúde pública e a formação multidisciplinar do farmacêutico. Ele lembrou que a faculdade já formou mais de mil profissionais e destacou conquistas recentes, como a consolidação de uma pós-graduação regionalizada e a qualificação integral do quadro docente.
Encerrando as falas, o diretor da Faculdade de Letras (Flet), professor Robert Langlady Lira Rosas, destacou que a criação da Seção de Letras representou mais do que a abertura de cursos. “Ali se firmava o compromisso de formar professores capazes de ler a realidade antes mesmo de decifrar signos”, afirmou. Ao celebrar os 60 anos, ele ressaltou o papel da comunidade acadêmica e projetou o futuro da unidade. “Celebramos menos uma estrutura e mais a comunidade. Este aniversário se celebra também sob o signo do futuro concreto, com a conclusão do novo bloco da Faculdade de Letras”, concluiu.
Breve Histórico
A Lei Federal n. 4069-A, que criou a Fundação Universidade do Amazonas, foi assinada no dia 12 de junho de 1962. A Universidade do Amazonas nasceu em 1962, quando o Brasil vivia uma experiência política parlamentarista e o presidente da República era João Goulart. Depois da retomada do presidencialismo por plebiscito, em 1963, a reação conservadora recrudesceu e a consequência disso foi o Golpe Civil-Militar de 1964. Goulart foi deposto e o intento golpista se concretizou com a implantação da ditadura no País.
Essa norma federal estabeleceu a UA como instituição de ensino superior sediada em Manaus, assegurando-lhe autonomia e estrutura administrativa. Além disso, definiu o principal objetivo da entidade: promover o ensino, a pesquisa e a divulgação científica e cultural. Desde então, a UA passou a ter patrimônio próprio, isso porque, além dos bens pertencentes à União, inclui o conjunto daqueles utilizados pela Faculdade de Direito e a Faculdade de Ciências Econômicas, à época sob a gestão do estado do Amazonas.
A nova Universidade integrou ainda a Faculdade de Engenharia, a de Farmácia e Odontologia, a de Medicina, a de Filosofia, Ciências e Letras. Ao todo, seis faculdades já existiam de forma independente. Ao longo dos anos, outros cursos foram incorporados à estrutura universitária, visto que já existiam de forma independente e tinham trajetória própria. É o caso do Serviço Social, criado em 1941 e integrado no ano de 1968. Nessa trajetória, a inclusão mais recente ocorreu em 1997, quando a Escola de Enfermagem de Manaus foi integrada à Instituição.
Ainda na década de 1960, a Resolução n. 02/1965 autorizou o funcionamento da “Seção de Letras, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade do Amazonas, a partir de 1º de janeiro de 1965, fixando o respectivo currículo”. No mesmo ano, a Resolução n. 06/1965 estabeleceu as “normas de funcionamento das Faculdades de Engenharia, Medicina, Odontologia e Farmácia”. Essa é a data celebrada no dia 20 de novembro de 2025, quando se comemoram os 60 anos de vigência dessa norma legal. O local onde passou a funcionar o Gabinete da Reitoria no ano de 1966 era um sítio chamado Liberdade, o qual tinha sido desapropriado, conforme uma planta da época.


