O extrativismo da borracha nativa no Amazonas emerge como um símbolo significativo da revitalização das economias da floresta, ganhando destaque como uma oportunidade diante dos desafios de resiliência climática e preservação ambiental. Compromissos internacionais voltados para a resolução do desmatamento zero e a mitigação das mudanças climáticas, especialmente em um novo contexto político no país, destacam a Amazônia como epicentro desse debate.
O 2º Grande Encontro Estadual do Extrativismo da Borracha, realizado de 26 a 29 de fevereiro em Manaus, evidenciou a necessidade de ampliar os arranjos para fortalecer a cesta produtiva da sociobiodiversidade amazônica, reconhecendo seu vasto potencial. Promovido pelo projeto “Juntos pelo Extrativismo da Borracha Amazônica”, o evento celebrou um crescimento exponencial na produção de borracha pelas associações participantes, resultando em uma renda direta de R$ 1.816.234 durante o segundo ano do projeto.
Este esforço conjunto envolve 16 associações agroextrativistas, distribuídas em seis municípios do Amazonas: Canutama, Itacoatiara, Pauiní, Manicoré, Barcelos e Eirunepé. Além de comemorar o crescimento da produção, o encontro ressaltou a necessidade de ações colaborativas entre os diversos atores envolvidos, abordando questões como a redução de impostos e os desafios logísticos para garantir a viabilidade da cadeia.
José Roberto de Lima (Neguinho), presidente da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas de Pauiní, expressou a importância da cadeia para além da borracha, mas pelo valor tradicional agregado. “Se não investir na cadeia produtiva, ela não se sustenta… a gente precisa pensar na borracha não apenas como borracha, mas com tudo que ela representa, o que e quem está por trás dela, e mais que isso, pela floresta”, enfatiza.
As demandas apresentadas na carta de encerramento do Encontro são uma repaginação das reinvindicações que já foram feitas no primeiro encontro, continuam a incluir a isenção de ICMS para produtos da sociobiodiversidade, a eliminação da taxação sobre subvenções estaduais, a disponibilização de kits de sangria. Também reivindicam a criação de políticas de seguro-seringueira, linhas de crédito subsidiadas e infraestrutura para armazenamento da produção.
“Eu sempre digo que o principal produto, que tem um simbolismo muito grande com a história de ocupação da Amazônia, é a borracha. A partir dela é que vamos começar a valorizar a nossa floresta do ponto de vista da sua conservação”, afirma o presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e um dos organizadores do encontro, Júlio Barbosa.
Com a participação de 80 convidados, incluindo representantes da sociedade civil, empresas e autoridades públicas, o encontro visou sensibilizar os governos federal, estadual e municipal sobre a importância de atender às demandas do setor, promovendo o reconhecimento e valorização do trabalho dos seringueiros e seringueiras no Amazonas.
Antônia Davy, secretária da Associação dos Produtores Agroextrativistas de Canutama, reforçou o apelo por apoio e reconhecimento governamental.
“A gente quer mais apoio e participação do governo, nós merecemos ser reconhecidos, nós somos os guardiões das florestas”.
Destaques da Safra de 2023
Como forma de reconhecimento pela valiosa contribuição na estruturação da cadeia da borracha, foram concedidos os seguintes prêmios: Destaques em Volume de Produção, Critério Qualidade, Organização e Engajamento, Liderança Engajadora e Engajamento Feminino.
Reginaldo, da Reserva Extrativista Capanã Grande, recebeu o prémio na categoria Liderança Engajadora. Ele foi responsável pela articulação de 91 seringueiros para a entrega de 21 mil toneladas de borracha em 2023. “Pra gente é gratificante, graças ao empenho dos seringueiros e vamos repassar para as comunidades e fazer a entrega simbólica aos seringueiros. É um trabalho que me dá muito orgulho, de representar quem defende a floresta”, disse durante a premiação.
O projeto
O Projeto “Juntos pelo Extrativismo da Borracha Amazônica” já impactou positivamente a vida de 500 famílias, promovendo diretamente a conservação de mais de 145 mil hectares da Amazônia por meio do manejo sustentável da borracha. Além disso, seu alcance ambiental benéfico se estendeu a mais de 1,3 milhão de hectares, abrangendo quatro unidades de conservação e cinco municípios do Amazonas onde as atividades são realizadas.
Nesse segundo ano de extração de látex com o apoio do projeto, foram produzidas mais de 130 toneladas de borracha nativa, gerando um volume significativo de R$ 1,8 milhão para as famílias participantes.
O Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Memorial Chico Mendes, Michelin Brasil, Imaflora e WWF-Brasil são os principais gestores do projeto, contando também com o apoio crucial da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), Alliance Bioversity International – CIAT, Consultative Group on International Agricultural Research (CGIAR), Fundação Michelin e Conexsus.
O que são as economias da sociobiobiodiversidade?
Mais do que produtos, essas economias são baseadas no conhecimento tradicional sobre a biodiversidade e na utilização sustentável dos recursos naturais por aqueles que vivem em biomas e ecossistemas diversos: em áreas de florestas, de savanas, caatingas, campos, áreas costeiras, manguezais, várzeas e rios.
‘A identidade e a autoafirmação enquanto povos da floresta, porque isso é um grande marco da produção extrativista, porque mostra quem são as mãos, quem são os rostos que movimentam essas políticas. Não estamos falando de uma produção qualquer, estamos falando de uma produção tradicional’, explica Claudia de Pinho, Diretora de Gestão Socioambiental e Povos e Comunidades Tradicionais no Ministério do Meio Ambiente, que esteve presente do II Grande encontro.
Tainá Aragão, comunicadora socioambiental WWF- BRASIL