Os brasileiros têm se preocupado mais com a saúde mental. Dados do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos mostram que a comercialização de remédios para ansiedade no país cresceu 10% entre 2019 e 2022; e o de antidepressivos, saltou 34%.
Quando o tema é ansiedade e depressão, o Brasil lidera o ranking na América Latina, com quase 19 milhões de pessoas com essas condições. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em todo o planeta cerca de 720 milhões de pessoas sofrem com transtornos mentais.
Para melhorar a qualidade de vida de quem sofre com essas condições, a indústria farmacêutica brasileira tem se destacado na busca por medicamentos mais eficientes, sustentáveis e com DNA nacional. É o caso da Hylaea, primeira empresa do planeta a produzir cloridrato de ibogaína a partir de moléculas presentes em espécies nativas da Amazônia.
A ibogaína consiste em uma substância que pode ser uma poderosa aliada no combate às desordens neurológicas e psiquiátricas como dependência química, ansiedade, depressão e mal de Parkinson.
Cura para a sociedade
A empresa, criada em 2022, é fruto da participação do estado do Rio Branco no Programa Inova Amazônia, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Com mais de 20 anos à frente de pesquisas que buscam extrair medicamentos a partir da natureza, o CEO da Hylaea, Ricardo Marques, explica que o medicamento é destinado a clínicas de tratamento e hospitais.
“Não precisa que aconteça internação. É apenas uma parte do tratamento, que deve ser feito sempre com psicoterapia e avaliação médica. Até agora, a eficácia desse tratamento é de 70%”.
Após ingerir uma única cápsula, o paciente fica em observação por volta de 3 horas, quando eventuais efeitos colaterais já podem ser observados. O diferencial, de acordo com Marques, é o alto poder de tratamento aliado ao baixo custo de produção do medicamento.
Cura para a floresta
Para produzir o cloridrato de ibogaína, a marca utiliza uma planta amazônica, a voacangina. “Nós pegamos uma planta que era considerada daninha, sem valor comercial, e, por meio do trabalho e da pesquisa, a transformamos em insumo de alto valor agregado. Hoje, a ibogaína é uma espécie que pode gerar renda e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida das populações amazônicas”, explica o CEO da Hylaea.
O trabalho é desenvolvido em parceria com reservas extrativistas de agricultores familiares, e busca ser realizado em poucas etapas e de maneira sustentável. De acordo com a marca, 85% dos insumos utilizados na produção são reciclados, evitando que solventes e reagentes entrem em contato com o solo ou a água.
O medicamento ainda está em fase de testes, mas já tem previsão de comercialização: 2025. “Após serem coletadas, iniciamos o processo de extração, isolamento e purificação. Hoje, esse processo é feito em bancada, para pequena produção. Estamos desenvolvendo um estudo com o Senai para aplicar essa tecnologia em uma escala semi-industrial. A ideia é iniciarmos 2025 com os primeiros lotes comercializados”, revela Marques.
Sobre o Projeto Indústria Verde
O Indústria Verde é uma iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para apresentar as contribuições da indústria brasileira à agenda ambiental. A indústria é parte da solução no desenvolvimento sustentável. O setor produtivo é um dos pioneiros a assumir a responsabilidade de estimular a implementação dos compromissos climáticos no país.